sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Lição 13 – A atualidade dos Últimos Conselhos de Tiago – Com o Resumo de toda Epístola de Tiago (28 de setembro de 2014


profetaescrevendo
INTRODUÇÃO

       Neste trimestre de mais uma maravilhosa revista das Lições Bíblicas que se encerra, iremos fazer um resumo de toda epístola escrita pelo apóstolo Tiago, enfatizando os elementos mais importantes do conteúdo desta carta tão valiosa nos tesouros da revelação e da sã doutrina divina, além de explanarmos sobre a última lição deste trimestre.

     Nossa análise fará uma retrospectiva do conteúdo de Tiago, capítulo por capítulo, fazendo uma revisão por parágrafos, destacando o ensino de cada capítulo ligando com todo o contexto da epístola e também da Bíblia. Somente o ensino será destacado, questões técnicas de maior profundidade serão omitidas, excetuando-se as questões introdutórias como contexto histórico, autoria, data, destinatários e etc.


A EPÍSTOLA DE TIAGO

Contexto histórico e os destinatários originais

     A epístola de Tiago possui um conteúdo essencialmente prático e atemporal. É um chamado ao verdadeiro cristianismo e um ataque à hipocrisia religiosa de nossos tempos, assim como o foi para seus destinatários originais (Tg 1. 1). Esses destinatários são identificados como sendo as doze tribos que andam dispersas. Ao falar em “tribos”, tem-se a ideia que a epístola se dirige aos cristãos de origem judaica, que antes seguiam o judaísmo e guardavam a lei de Moisés e que agora moravam fora de Israel, devido a dispersão causada pela perseguição. Eles ainda eram maior número nas igrejas recém nascidas da Judeia. Dentre eles estavam ex-fariseus e ex-escribas, pessoas muito apegadas ao legalismo (At 13. 43; 15. 5; 21. 20). Esse legalismo foi o motivo do Concílio de Jerusalém (At 15) e a razão que levou Tiago a escrever sua epístola, aos que achavam que a sinagoga e a igreja eram a mesma coisa (At 15. 1). Eles confundiam a Lei de Moisés com a Graça de Cristo, semelhantemente como os gálatas assim faziam, os quais foram advertidos duramente por Paulo (Gl 2. 21; 5. 2-6). A Bíblia como um todo deixa claro a diferença entre as dispensações da lei e a da graça (Jo 1.17; At 15. 7-11; Rm 4.16; 5.20; 6.14; 1Co 7. 19; Gl 3. 18-29; 4. 28). Não pode haver confusão nessa questão.

Data em que foi escrita

     Deduz-se pela evidência histórica que Tiago pode ter escrito sua epístola pouco depois do Concílio de Jerusalém (cerca de 45 d.C, At 15) quando os cristãos, inclusive os de origem judaica já haviam sido espalhados por causa da perseguição que sobreveio à igreja após o martírio de Estêvão (At 6 – 7; veja 11. 19). Isso é evidência que a igreja primitiva era recém nascida e que a maioria dos cristãos era realmente de antigos seguidores da Lei mosaica que estavam e com a entrada em massa dos gentios na igreja de maioria judaica, tinham que se relacionar com eles. E estavam “dispersos” (Tg 1.1) devido a essa perseguição por serem cristãos. A epístola foi escrita mais precisamente em 46 d. C., ou seja, um ano após o Concílio de Jerusalém.

Objetivo da epístola

     Tiago procura definir a verdadeira fé revelada em Cristo, o que não tem nada a ver com a antiga religião legalista judaica baseada na lei de Moisés (Mt 9. 16, 17), a qual os “judaizantes” insistiam em ensinar que era necessária ser observada para se alcançar a salvação (Conforme nos informa At 15. 1, 5). Isto causava confusão com relação a ligação entre a fé e as obras e o valor que ambos desempenham na salvação (At 15. 5-8).

    Tiago ensina que o legalismo deve ser abandonado e uma nova vida interior deve ser demonstrada exteriormente pelas obras, não na auto confiança das obras em si por se realizar certos regulamentos, mas por permitir que Cristo exerça seu senhorio, transformando a vida legalista pecaminosa em uma vida santificada e regenerada cheia da sua graça.

O AUTOR TIAGO

   O Novo Testamento menciona no mínimo quatro homens por nome Tiago:

          (1) Apóstolo, filho de Zebedeu e irmão mais velho do apóstolo João (Mc 1.19; 3.17). Era pescador (Lc 5.10). É mencionado em (Mt 17.1-8, Mc 10.41). Foi morto por ordem de Herodes Agripa I (At 12.2).

            (2) Apóstolo, filho de Alfeu (Mt 10.3; At 1.13).

          (3) Irmão de Jesus (Mt 13.55), convertido após a ressurreição (Jo 7.5), e pastor da Igreja de Jerusalém (At 12.17; 15.13; 21.18; Gl 1.19; 2.9). Foi morto em 62.

          (4) Pai do apóstolo Judas, não o Iscariotes (At 1.13).

(Dicionário da Bíblia de Almeida. SBB, pág. 106) 

   O Tiago, meio irmão do Senhor “antes não acreditava em Cristo mas ficou convicto do caráter messiânico de Jesus, evidentemente através da aparição pessoal a ele, após a ressurreição de Cristo. Subsequentemente, tornou-se o líder principal da igreja de Jerusalém, uma figura de estatura sumo sacerdotal, muito respeitado entre judeus e cristãos, igualmente. (CHAMPLIM. Russel Normam. Novo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo, Hagnos. Volume 6, pág. 4). Segundo Champlim, não tem como se saber com certeza que Tiago, irmão do Senhor, de fato escreveu a epístola.

     Mas um exame mais apurado pode demonstrar que a identificação da autoria não vem apenas da tradição antiga, mas de evidências internas contidas no texto da própria epístola.

  Segundo a evidência e a tradição interpretativa, dentre tantos “Tiagos” mencionados nas Escrituras, o testemunho aponta para Tiago, meio irmão do Senhor  (Ver  Gál.  1:19; 2:9,12; I  Co 15:7;  Atos  12:17;  15:13  e  21:18).  (Op. Cit).

     De acordo com Charles C. Ryrie: “Dos quatro indivíduos identificados como Tiago, no Novo Testamento, somente dois têm sido propostos como o autor desta carta – Tiago, filho de Zebedeu (e irmão de João) e Tiago, o meio irmão de Jesus. É pouco provável que Tiago, filho de Zebedeu, tenha sido o autor, visto ter sido martirizado em 44 d.C (At 12. 2). O tom de autoridade evidente na carta não apenas elimina os outros dois Tiagos menos conhecidos, do Novo Testamento (Tiago, o menor e o Tiago de Lucas 6. 16), mas aponta para o meio irmão de Jesus, que veio a ser o líder reconhecido na igreja em Jerusalém (At 12. 17; 15. 13; 21. 18). Esta conclusão é apoiada pelas semelhanças existentes (no texto grego) entre esta carta e o discurso de Tiago, no Concílio de Jerusalém (Tg 1. 1 e At 15. 23; Tg 1. 27 e At 15.14; Tg 2. 5 e At 15. 13).” -A Bíblia Anotada, Expandida. Mundo Cristão, pág. 1213.

      Além do mais, Douglas J. Moo no seu livro: Tiago - Introdução e Comentário, pág 18, da Editora Vida Nova, assim afirma:

“O Tiago da carta não precisa, é claro, ser identificado com algum Tiago mencionado no Novo Testamento. Mas o uso de um único nome numa carta escrita com tamanha autoridade deixa subentendido que o autor  era  uma  figura  bem  conhecida  e  que  seria  improvável  que  tal indivíduo pudesse passar sem ser mencionado no Novo Testamento. Dos quatro Tiagos do Novo Testamento, apenas o filho de Zebedeu e o irmão do Senhor destacam-se como proeminentes. Entretanto, Tiago, o filho de Zebedeu, morreu martirizado em 44 A.D. (At 12.2), e é improvável que a epístola tenha sido escrita numa época tão remota. Ficamos, então, com Tiago, o irmão do Senhor, como o mais provável autor da epístola.”

A morte de Tiago
     De acordo com a Wikipédia:

    Segundo uma passagem nas Antiguidades Judaicas, de Flávio Josefo, "o irmão de Jesus, que era chamado de Cristo, cujo nome era Tiago" encontrou a morte após a do procurador Porcius Festus, antes que Lucceius Albinus fosse empossado - cuja data é 62 d.C. O sumo-sacerdote Ananus ben Ananus tirou vantagem desta falta de controle imperial para reunir o Sinédrio que condenou Tiago "sob acusação de ter violado a Lei" e logo o executou por apedrejamento. Josefo relata ainda que o ato de Ananus foi amplamente considerado como um assassinato judicial e teria ofendido muitos dos ‘que eram consideradas as pessoas mais justas da cidade, e estritas na observância da Lei’, que chegaram a se encontrar com o procurador Albinus para pedir-lhe que interferisse no assunto. Como resultado, o rei Agripa trocou Ananus por Jesus, filho de Damneus.

    George Albert Wells contesta a identificação de Tiago que foi executado por Ananus ben Ananus com Tiago, o Justo, considerando as palavras "que era chamado Cristo" como sendo uma interpolação posterior.

    Eusébio de Cesareia, citando o relato de Josefo, preservou o registro de passagens das hoje perdidas obras de Hegésipo e Clemente de Alexandria. O relato de Hegésipo é um pouco diferente do de Josefo e pode ter sido uma tentativa de reconciliá-los combinando-os. De acordo com Hegésipo, os escribas e os fariseus foram até Tiago em busca de ajuda para eliminar as crenças cristãs. O relato diz:

   “Eles vieram, portanto, em grupo até Tiago e disseram: ‘Nós te suplicamos, contenha o povo: pois eles se desviaram em suas opiniões sobre Jesus, como se ele fosse o Cristo. Nós te suplicamos, convença todos que vieram aqui para o dia da Páscoa, sobre Jesus. Pois nós todos ouvimos sua persuasão; pois nós também, assim como todo o povo, somos testemunhas que tu és justo e não mostras preferência por ninguém. Convence portanto o povo a não entreter opiniões errôneas sobre Jesus: pois todo o povo, e nós também, ouvimos a sua persuasão. Tome uma posição firme, então, no alto do templo, de modo que possas ser visto claramente por todos, e tuas palavras possam ser claramente ouvidas por todos. Pois, para comemorar a Páscoa, todas as tribos vieram para cá e também alguns gentios.’

    Para desgosto dos escribas e os fariseus, Tiago corajosamente testemunhou que Cristo "senta-se no céu do lado direito do Grande Poder e retornará nas nuvens celestiais". Então eles confabularam entre si "Erramos ao procurar seu testemunho sobre Jesus. Vamos então subir e jogá-lo de lá, para que eles tenham medo e não acreditem nele.” (Fragmentos dos "Atos da Igreja" sobre o Martírio de Tiago, o irmão do Senhor.)

    Assim, os escribas e os fariseus: “...lançaram abaixo o homem justo... [e] começaram a apedrejá-lo, uma vez que ele não morrera na queda; Mas ele virou e se ajoelhou e disse: "Eu imploro-te, Senhor Deus nosso Pai, perdoa-os pois eles não sabem o que fazem."

   E, enquanto eles estavam apedrejando-o até a morte, um dos sacerdotes, dos filhos de Recabe, de quem testemunhou Jeremias, o profeta, começou a gritar, dizendo: "Parem, o que estão fazendo? O homem justo está rezando por nós.". Mas um dentre eles, um dos tintureiros, tomou seu cajado com o qual ele estava acostumado a manipular as vestes que tingia, e atirou na cabeça do homem justo.

     E assim ele sofreu o martírio; e eles o enterraram ali mesmo, e o pilar que foi erguido em sua memória ainda está lá, perto do templo. Este homem foi uma testemunha verdadeira tanto para os judeus quanto gregos de que Jesus é Cristo.” (Fragmentos dos "Atos da Igreja" sobre o Martírio de Tiago, o irmão do Senhor).

ESBOÇO DA EPÍSTOLA DE TIAGO

Tema e ideia central de Tiago:

A veracidade da fé salvífica demonstrada na vida prática

Versículo fundamental: Tg 1. 27

  ESTILO

     Os estudiosos da Antiguidade nos dizem que o que Tiago escreveu não foi bem uma carta, mas uma diatribe sapiencial, isto é, um sermão para ser lido em voz alta nas igrejas a fim de admoestar os ouvintes a um estilo de vida piedoso. A diatribe parece ter sido inventada por certo Bio, tornando-se bastante popular entre os filósofos cínicos e estoicos, principalmente Luciano, Epiteto e Sêneca. Horácio, o poeta da corte do imperador Otávio Augusto, as chamava de “sermões”. Dentre os cristãos, o que mais utilizou a diatribe foi Tertuliano. Talvez o termo diatribe tenha sido escolhido para descrever o tipo de sermão usado por esses sábios antigos porque o verbo grego diatribo significa “passar o tempo” ou “esfregar”, dando a entender que o momento da diatribe é um tempo dedicado a passar as coisas a limpo, isto é, a hora de dizer sinceramente aos ouvintes onde residem suas dificuldades a fim de propor-lhes que emendem seus caminhos. (TORRES, Milton L., Tiago - Retratos da natureza humana, páginas 5, 6).

ESBOÇO

     Este esboço abaixo leva em consideração os parágrafos do conteúdo de Tiago, os quais comentaremos. O conteúdo esboçado a baixo mostra os vários tipos de pessoas que existem nas igrejas, levando em consideração tanto sua fé como seu comportamento, ou seja sua forma de demonstrar a fé. Este esboço é encontrado no belo trabalho de Milton L. Torres, Tiago – Retratos da Natureza Humana, página 9 e adaptado por mim.
(Link: http://www.academia.edu/533923/Tiago_retratos_da_natureza_humana).

CAPÍTULO 1

* O homem de duas caras (1:3-8)
* O homem bem-aventurado (1:9-18)
* O homem que se olha no espelho (1:19-27)

CAPÍTULO 2

* O homem com o anel de ouro no dedo (2:1-13)
* O homem insensato (2:14-26)

CAPÍTULO 3

* O homem “perfeito” (3:1-12)
* O homem sábio e entendido (3:13-18)

CAPÍTULO 4

* O homem infiel (4:1-10)
* O homem que sabe o bem que deve fazer e não o faz (4:11-17)

CAPÍTULO 5

* O homem opressor (5:1-6)
* O homem perseverante (5:7-12)
* O homem de fé (5:13-20)


RESUMO E ANÁLISE DA EPÍSTOLA DE TIAGO

CAPÍTULO 1

* O homem de duas caras (1:3-8).

    Tiago inicia sua epístola abordando o tema da alegria em meio as provas da vida (v. 2). Essas provas não devem ser encaradas como algo essencialmente maligno (Rm 8.28; Hb 12. 11), mas como algo com o qual Deus poderá usar para nos abençoar ainda mais e nos trazer mais experiências na vida cristã, se permanecermos fiéis diante das tentações (v. 3, cf. Rm 5. 2-5; 2Pe 1. 5-10). O meio irmão do Senhor diz que a nossa paciência (v. 4; Lc 21, 19) e a nossa sabedoria (v. 5; Tg 3. 17) são aperfeiçoadas quando somos provados e que se nós não estivermos conseguindo suportar a provação, temos que pedir ao Senhor a paciência e a sabedoria necessárias para suportá-las, vencê-las e sermos aprovados (Pv 2. 3-6). Um boa forma de vencer as provas e tentações, de fato, é orando (v. 6; 1Sm 1. 9-18; Sl 116.1-6; Tg 5. 13a). Não adianta orar sem fé e sem obedecer a Deus (v. 6b; Tg 4. 3), pois Deus não ouve esse tipo de oração (v. 7; Sl 66. 18). O homem de coração dobre (ou seja, o crente de duas caras, de coração dividido) e que é inconstante (isto é, indeciso, sem firmeza) em todos os seus caminhos (ou seja, naquilo que ele pratica) é um candidato a não ter suas orações respondidas.

* O homem bem-aventurado (1:9-18).

    Quando a tentação ou a provação chega ela não faz distinção entre rico (v.10) e nem entre o pobre (v. 9), mas tanto o rico como o pobre devem continuar firmes no Senhor e honrando o bom nome de “servo de Deus”, ou de “cristão” (Pv 22. 1, 2; At 11. 26).

      O pobre deve gloriar-se em Deus quando o Senhor o exaltar após passar pela prova (Lc 6. 20); da mesma maneira que deve o crente que é rico continuar se regozijando em Deus, no caso de ele fatidicamente perder suas posses (Lc 19.8,9; Hb 11. 24-26). A vida tem altos e baixos, quem está exaltado hoje poderá ver uma inversão de papéis onde o abatido será exaltado e o exaltado passará como uma flor que murcha com o tempo e finalmente fica seca (Is 40. 7). O pobre e principalmente o rico devem lembrar que “ele passará como a flor da erva” (vv. 10, 11), isso vale para todas as pessoas (1Pe 1. 24) no entanto “aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1Jo 2. 17). Deus também não faz distinção de pessoas quando deseja abençoá-las por sua fidelidade (Jó 34. 19; At 10. 34; 15. 9; Rm 2. 11; 10. 12; Gl 2. 6; Ef 6. 9). Essa bênção é para todos os que amam ao Senhor e passam pelas provas. Para eles Deus tem uma promessa: “receberá a coroa da vida” (v. 12).

     Seria contradição alguém pensar que um Deus de santidade e de amor se compraz em ver seus filhos sob o peso das tentações e do sofrimento (Sl 56. 8-11), como se Ele tivesse prazer no sofrimento dos seus servos ou fosse capaz de induzí-los ao pecado, por isso não podemos murmurar contra Deus na hora da tribulação (v. 13), pois não é Deus quem nos tenta, senão nossa própria natureza pecaminosa (v. 14; Rm 8. 5-8). Se cedermos ao pecado, a culpa será toda nossa e somos nós que teremos que arcar com as consequências (v. 15; Pv 8. 36; Ez 18. 20), sem colocar a culpa em Deus (Lm 3. 39). Por isso devemos tomar cuidado em não pensar mal do Senhor (v. 16), pois Deus não envia o mal para seus servos fiéis; muito pelo contrário, Ele envia o melhor (v. 17; Mt 7.11). Por isso, o salvo que passa pela prova e é aprovado, é “bem aventurado” (v. 12). A bondade do Senhor é provada pelo fato de Ele nos ver como sua criação mais importante e nos incluir na vontade dos seus propósitos (v. 18). Ele nunca nos induziria a algo que nos fizesse mal (1Co 10. 13).

    * O homem que se olha no espelho (1:19-27).

       A verdade é que quando estamos irados ou angustiados, acabamos por falar coisas que depois nos arrependemos, por isso temos que ser prudentes e pensar antes de falar (v. 19; Pv 10. 19; Tg 3. 2) pois a ira não nos permite ser imparciais em nosso julgamento da situação e sobre as pessoas (v. 20; Pv 15. 18). Uma palavra mal falada pode produzir morte, mas a Palavra de Deus, segundo Tiago, “pode salvar a vossa alma” (v. 21; Dt 32. 47; 2Tm 3. 15)!

    Para que essa Palavra divina tenha efeito em nossas vidas, primeiro temos que:

(1) Nos livrar de “toda imundícia e acúmulo de malícia” (1Pe 2.1-3);

(2) Receber “com mansidão” (submissão) esta palavra que nos é “enxertada”, ou seja, inserida dentro de nós, participando de nossa essência (Mt 13.  23; Lc 8. 15; Rm 1. 5; Gl 5. 6; Hb 4. 2).

     Assim fazendo, não estaremos nos enganando como aqueles que são apenas ouvintes que se declaram salvos em Cristo e têm um discurso bonito, mas não aplicam a Palavra e as ordens de Deus em sua própria vida (v. 22; Jó 15. 31; Gl 6. 3; Tg 1, 26; 1Jo 1. 8).

    Tiago então compara o homem hipócrita que afirma ser salvo em Cristo mas, não obedece a Deus como um homem que se olha no espelho para ver onde deve arrumar-se e então sai da frente do espelho sem se ajeitar, esquecendo- se onde estavam os defeitos que o espelho lhe mostrou (vv. 23, 24).

     A Bíblia é o espelho da alma que mostra-nos onde erramos ou precisamos melhorar. É necessário que demos a ela total atenção, para que possamos ter uma vida que, como um espelho limpo, reflita a glória do Senhor (v. 25; 2Co 3. 7, 8, 17,18; Fp 2. 14-16).

     Tiago conclui este capítulo dizendo o que devemos fazer de prático para não sermos meros religiosos inúteis, nos enganando na nossa falsa religiosidade:

(1) Refrear a língua (v. 26);

(2) Ajudar os menos favorecidos, por exemplo “os órfãos e as viúvas nas suas tribulações” (v. 27a; Êx 22. 22);  

(3) Tomar cuidado para não nos contaminarmos com a influência maligna do mundanismo (v. 27b; Rm 12. 2; 1Jo 2. 15, 16).

Versículo chave: “O homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos” (Tg  1.8).

Tema teológico abordado: As provações e tentações da vida cristã e a importância da Palavra de Deus.

Aplicação pessoal: Deus nos TESTA, mas o diabo e nossa natureza carnal e pecaminosa nos TENTA. Se nos revestirmos com a Palavra do Senhor poderemos vencer as provas e termos uma vida espiritual cheia de alegria, independentemente da situação diante de nós.

CAPÍTULO 2

* O homem com o anel de ouro no dedo (2:1-13)

     A acepção de pessoas é algo inaceitável na igreja e uma demonstração de que não temos uma fé verdadeira em Cristo (v. 1;  1Tm 5.21). O exemplo disso dado por Tiago (vv. 2, 3) acusa algumas pessoas da igreja a fazerem “distinção” e serem “juízes de maus pensamentos”, pensamentos estes que olham os pobres como menos dignos que os ricos. Nenhum pensamento podia ser mais errado, pois Deus cuida dos pobres e os incluiu em sua providência (v. 5; Dt 15. 7; Mt 11. 5; Lc 6.  20)!

     O irônico dessa situação é que os mesmos ricos tão estimados nas igrejas eram os mesmos que perseguiam os crentes que se desonravam entre si (v. 6) e mesmo que esses ricos fossem bem tratados na igreja, eles continuavam a blasfemar de Deus e dos crentes (v. 7).  Tiago aconselha a igreja a não fazer acepção de ninguém (v. 8), lembrando que fazer acepção de pessoas é pecado (v. 9). A lei requer total observância, em todos os seus pontos (vv. 10-12), devemos ser justos em nossos julgamentos e não desprezar aos outros (v. 13; Sl 82. 3).

     * O homem insensato (2:14-26)

      A fé é importante, mas segundo Tiago, a fé verdadeira é acompanhada de um comportamento prático que evidencie uma transformação interior dando testemunho da salvação de nossa vida (v. 14). Ele  novamente exemplifica a fé prática, e mostra a diferença entre falar e fazer (vv. 15, 16). O homem insensato fala mas não faz. Um tipo de fé que não é atuante é uma fé sem valor algum (v. 17). Nós podemos falar que temos fé e que somos obedientes, mas não podemos provar se não pormos nossa fé em prática quando a situação assim requer (v. 18). Da mesma forma é a fé dos demônios, que sabem que Deus é soberano, no entanto não lhe obedecem (v. 19).

     O argumento de Tiago toma mais peso neste trecho (v. 20). E mais uma vez ele exemplifica, se utilizando do poder da Escritura, ao mencionar a história de Abraão e o oferecimento de Isaque (v. 21). Segundo Tiago, a fé que Abraão já tinha diante de Deus só foi confirmada real depois de ele ter passado no teste (v. 22). A declaração da justiça de Abraão, afirmada anos antes, foi consolidada quando Abraão demonstrou obediência baseada na fé de que Deus cumpriria sua promessa a ele, mesmo que ele sacrificasse seu filho, como Deus ordenou (v. 23; Hb 11. 16-18). A amizade entre Deus e Abraão ainda mais se fortaleceu quando ele passou pela prova.

     Outro Exemplo dado por Tiago é o do caso de Raabe, que apesar de sua vida, creu em Deus e por isso ajudou os espias (v. 25). No v. 26 Tiago repete o que disse no v. 20 apenas para ser enfático.

 Versículo chave: “Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?” (Tg 2. 20).

Tema teológico abordado: A salvação e a transformação do caráter e do comportamento andam juntas.

Aplicação pessoal: As obras referidas por Tiago são os atos praticados em nome da fé. Ou seja, sem obras a fé não vale nada. É hipocrisia.

CAPÍTULO 3

* O homem “perfeito” (3:1-12)

     Apesar de todos esses problemas  que  demonstravam imaturidade espiritual desses crentes,  Tiago notava que muitos deles se achavam que podiam ser mestres (v. 1; Mt 23. 8), no entanto eles nem sabiam parar de falar o que não era apropriado (v. 2; Rm 2. 20, 21), eles eram piores que cavalos, pois ao menos estes conseguiam ser domados (v. 3; Sl 32. 9). Suas vidas eram  como navios desgovernados no meio de uma tempestade onde o leme foi esquecido e o barco ficou sem direção (v. 4). O costume de muitos usarem sua pequena língua de má forma tem provocado grandes confusões (v. 5; Pv 10. 19), esse poder  maligno da língua vem do inferno (v. 6; At 5.  3).

     A língua é um membro difícil de controlar, pois nela está algo de muito mal, como peçonha de cobra (v. 8; Sl 140. 3). Ela foi feita para dizer coisas boas mas as vezes fala coisas más (v. 9; Sl 62. 4). Deus não se agrada disso (v.10; Sl 12. 3, 4).

     A questão da língua é séria pois é ela que demonstra o que somos por dentro (Mc 7. 21-23; Lc 6. 45), ela mostra se em nosso interior tem “água doce ou amargosa”(v. 11), já que só produzimos o que  nossa natureza nos impele a fazer e não podemos ser maus e fazer  o que é bom. Quem é mal faz o mal (v. 12; Mt 7. 18).

* O homem sábio e entendido (3:13-18)

     Para Tiago a sabedoria, assim como a fé, só pode ser mostrada pelo bom comportamento da pessoa que afirma possuí-la (v. 13; Ec 8. 5).  Abrigar no coração amarga inveja e sentimento faccioso é não conseguir camuflar a falta de sabedoria (v. 14; Pv 14. 30). Por mais que a pessoa tente fingir que é sábia, se  tiver esses sentimentos, ela possui uma mera sabedoria terrena, animal e diabólica. Tiago fala abertamente que essa sabedoria não é do alto, isto é do Céu, de Deus (v. 15; 1Co 3. 3). Pois a sabedoria verdadeira gera coisas boas (v. 18; Pv 11. 18, 30), mas a sabedoria carnal e pecaminosa e cheia de inveja só gera perturbação  e toda obra perversa (v. 16; 1Jo3.  12)A sabedoria verdadeira tem características claras que a diferenciam da sabedoria carnal (v. 17). Ela está fundamentada na justiça (v. 18).

Versículo chave: “Quem dentre vós é sábio e inteligente? Mostre, pelo seu bom trato, as suas obras em mansidão de sabedoria” (Tiago 3. 13).

Tema teológico abordado: A ética cristã prática é a forma mais eficiente de se demonstrar a fé.

Aplicação pessoal: Falar é fácil, fazer é que é difícil. Lançar palavras ao vento é costume de quem não é sábio de verdade. Mas quem é realmente sábio demonstra isso no seu dia a dia, na sua vida prática e nos seus relacionamentos, seja no trabalho, escola, família ou vizinhança.

 CAPÍTULO 4

* O homem infiel (4:1-10) 


     O mundanismo é um problema grave na igreja, ele nos faz:

(1) Gerar guerras e pelejas no seio da igreja, devido a falta de espiritualidade (v. 1; Jr 17. 9);

(2) Ter as orações impedidas por causa de objetivos egoístas (vv. 2, 3; Sl 66. 18; Pv 21. 13).

(3) Trair a aliança de fidelidade com nosso noivo, Jesus Cristo (v. 4; Is 57. 3; Mt 12. 39; 16. 4);

     O Espírito Santo tem ciúmes (zelo, cuidado) de nós e não quer que nos misturemos com o mundo (v. 5) mas que recebamos as bênçãos de Deus. Para isso devemos eliminar os traços do mundanismo em nós, com as seguintes atitudes:

(1)  Sermos mais humildes para recebermos mais graça (v. 6; Sl 138. 6; Pv  3. 34; Mt 23. 12);

(2) Resistir ao diabo, nos submetendo a Deus (v. 7; 1Pe 5. 8, 9);

(3) Nos aproximar de Deus com as mãos (as práticas) limpas e com o coração (consciência) purificado (v. 8; Sl 15. 1, 2);

(4) Sentir tristeza e arrependimento pelo pecado e a vida espiritualmente morna (v. 9; Sl 119. 67, 71);

(5) Pedir a misericórdia de Deus e a renovação da aliança (v. 10; Sl 51. 10; Lm 5.21; Rm 12. 1,2).

* O homem que sabe o bem que deve fazer e não o faz (4:11-17)
     O mundanismo atacado por Tiago nos versículos 1-10 é aqui demonstrado e exemplificado através de exemplos de atitudes erradas e por isso, pecaminosas (1Jo 3. 4; 5. 17). Falar mal do seu irmão e julgar a seu irmão equivale a falar mal da lei e julgar a lei, pois nosso dever é obedecer a lei que nos diz para amar ao nosso próximo. Quando desobedecemos a este mandamento, damos a entender com esse comportamento que a lei é fraca, desprezível e ignorável e isso traz a acusação de Tiago, que assim se dirige para os que fazem isso: “já não és observador da lei  mas juíz” (v. 11), segundo Tiago quem desobedece a Lei está se colocando acima dela e julgando a Lei que ordena para não se fazer esse pecado de falar mal uns dos outros. Tiago exorta que a igreja mude de atitude e afirma que “Há só um Legislador e um Juiz, que pode salvar e destruir. E então faz a pergunta: “Tu, porém, quem és, que julgas a outrem?”(v. 12). Aqueles irmãos se achavam tão justos e sábios que se colocavam no lugar de Deus para pronunciarem condenações mútuas. Jesus condenou esse tipo de julgamento (Mt 7.  1).

     Os planos que fazemos também podem mostrar atitudes  erradas, quando nos esquecemos de consultar  a Deus e de  lhe dedicar nosso caminho para Ele dirigir (vv. 13-15). Essa atitude é originada pelo pecado da presunção que faz a pessoa esquecer-se que a vida é frágil, como um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece (v. 14; Tg 1. 10; Sl 39. 5; 89. 47). A atitude certa é colocar a vontade de Deus em tudo, até nos menores planos, pois somente com sua bênção podemos viver para fazer o que desejamos, se isso antes for da vontade de Deus (v. 15; Pv 16. 1; 17. 21; 27. 1; 1Co 16. 7).

     Esquecer-se de colocar Deus em nossos planos é uma atitude que revela orgulho (vos gloriais em vossas presunções), uma atitude muito errada, pois essa atitude é maligna (v. 16; Sl 52. 1-7; Lc 12. 15-21). E se sabemos fazer o que é bom, mas cruzamos os braços, pecamos da mesma forma, pois se omitir do dever de fazer o bem é tanto pecado quanto fazer ativamente o mal (v. 17; Lc 12.  47, 48).

Versículo chave: “Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará” (Tg 4. 10).

Tema teológico abordado: A influência maligna do mundanismo e a firmeza que  o crente tem que ter para conservar seu caráter imaculado.

Aplicação pessoal: O mundo tem uma amizade a oferecer. No entanto a amizade com Deus é bem melhor, sem dúvida (1Jo 2. 15 – 17). Não é possível amar a Deus e ser amigo do mundo ao mesmo tempo (Lc 16. 13).

CAPÍTULO 5

* O homem opressor (5:1-6)

     Os ricos oprimindo os pobres volta a ser assunto na epístola, só que desta vez, no capítulo 5 assume um caráter mais geral (veja Tg 2. 6, 7). Nos versículos 1 a 6 Tiago assume um papel profético sentenciando os ricos opressores a receberem o castigo que sobrevirá sobre eles e os conclama a se arrependerem, chorarando por suas misérias (v. 1; Ap 3. 7), lembrando-os que as suas riquezas e suas roupas caras nada valerão no dia do juízo quando estiverem diante de Deus (v. 2), bem assim como o ouro e a prata que possuem, as quais darão testemunho de que eles amavam o mundo e não a Deus (v. 3; Mt 19. 21-24). A opressão praticada por esses ricos é definida nos versículos 4 a 6. Eles:

(1) Defraudavam seus trabalhadores, minguando seu pagamento, o que fez os trabalhadores clamarem por justiça ao Senhor (v. 4; Lv 19. 13);

(2) Viviam na luxúria do pecado e nos excessos, como um boi que se engorda para o dia da matança (v. 5; Jó 21. 11-15);

(3) Eles faziam o que queriam com seus trabalhadores, até mesmo condená-los a morte (v. 6).

     O TRECHO SEGUINTE É O QUE SERVE DE BASE PARA A ÚLTIMA LIÇÃO DO NOSSO 3º TRIMESTRE DE 2014 – A ATUALIDADE DOS ULTIMOS CONSELHOS DE TIAGO.

     NESTA PARTE O LEITOR ENCOTRARÁ MATERIAL IGUALMENTE PROVEITOSO PARA SEU ESTUDO DA LIÇÃO.

 * O homem perseverante (5:7-12)

       Já perto de encerrar sua epístola, Tiago começa a dar seus últimos conselhos:

(1) Sobre a paciência (v. 7; Rm 8. 25; 15. 4);

(2) Sobre fortalecer o coração (v. 8; Sl 27. 14);

(3) Sobre não falar mal uns dos outros pra não ser condenado (v. 9; Mt 6.14, 15);

(4) Sobre a aflição (v. 10; Mt 5. 12);

(5) Sobre suportar o sofrimento (v. 11; Jó 1. 22; 23. 10);

(6) Sobre a proibição dos juramentos (v. 12; Mt 5. 33-37; 23. 16-22).

* O homem de fé (5:13-20)

     Somos todos sujeitos às aflições, e Tiago afirma que uma das formas de enfrentá-las é orando (v. 13), bem como expressar sua alegria ao cantar louvores. Tiago descreve o procedimento para alcançar a cura, em caso de enfermidade:

(1) Chamar os presbíteros para receber uma unção (v. 14);

(2) Receber a oração para o perdão dos pecados e a restauração da saúde (v. 15; Jo 5.14);

(3) Para a cura ser efetiva deve-se confessar os pecados (v. 16; Is 33. 24; Mt 9. 2-6; 1Jo 5. 16), pois a oração de um justo pode muito em seus efeitos.

     E sobre o poder da oração de um justo, Tiago dá o exemplo do profeta Elias, que era uma pessoa sujeita às mesmas fraquezas humanas como nós, mas foi grandemente usado por Deus para trazer um avivamento e arrependimento a Israel (vv. 17-18).

     Tiago encerra sua epístola com dois últimos versículos (vv. 19-20), falando do valor de uma alma que precisa de salvação. Ele diz que a evangelização é dirigida não só a multidões, mas tem a mesma importância se alguém conseguir alcançar uma só pessoa, fazendo-o sair do seu mau caminho para ser salvo em Cristo. Esta simples, porém valorosa atitude salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados.

Versículo chave: “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse, e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra” (Tg 5. 17).

Tema teológico abordado: A oração na prática devocional cristã.

Aplicação pessoal: De acordo com Tiago, a fé deve ser praticada e não só algo teórico e intelectual. A oração é uma as coisa que Tiago fala que deve ser sempre praticada pelo cristão fiel. Tiago aborda o valor da oração dizendo que ela:

(1) Tem o poder de alegrar o aflito (v. 13a);

(2) Tem o poder de trazer a cura, restauração e o perdão (vv. 14-16);

(3) Tem o poder de convencer os pecadores do poder de Deus (vv. 17);

(4) Tem poder de trazer a bênção sobre a terra (v. 18)

CONCLUSÃO

     A carta de Tiago resplandece com a luz da pureza divina. Seus ensinamentos sempre serão límpidos e conclamarão a igreja em geral e cada crente em particular a lembrar do seu dever e responsabilidade de ser um verdadeiro representante do Reino de Deus na terra. A epístola de Tiago nos impõe a seguinte pergunta: Até que ponto estamos realmente comprometidos com nossa fé e somos transformados pelo evangelho de nosso senhor Jesus Cristo? Lembremos que  “a fé sem as obras é morta” (Tg 2. 26).

Deus vos abençoe.

Toda glória seja dada ao Senhor


Pedro Magalhães Alves Júnior

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